terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Se você estivesse aqui poderia te dizer que não está chovendo mas tampouco faz sol. Você não ficaria impressionado e puxaria uma cadeira. Sua cadeira. O canto onde você sempre senta pra me olhar enquanto falo bobagens e ouço músicas que não compreendo. É polonês?, te perguntaria. É polonês, saberia de pronto, antes da sua resposta chegar aqui onde estou: sempre tão perto, igualmente tão longe.

Cigarros sobre a mesa. Pegaria um dos seus, tomaria o seu isqueiro. Eu sou folgada, preciso de espaço, preciso ter o que não me pertence. Te faria uma piada, você sorriria pois estou sempre a te poupar da verdade e a verdade é que nada disso tem sentido algum, nada tem realmente importância. Ou quem me poupa é você pois a verdade não te afeta, não te atinge pelas costas como um tiro à queima roupa como me atinge. Estamos leves e soltos a mover-nos, a falar-nos e você está tranquilo, sempre calmo a perder de vista. Que você me fale, que eu te fale, que as notícias corram lá fora soltas e que as novas não sejam as esperadas: sigo roubando seus cigarros e o precioso tempo que é só seu. Eu o roubo e trago cada um dos seus minutos e não sinto culpa. Às vezes eu não sinto nada. Às vezes ter sobrevivido à adolescência é uma tremenda falta de sorte. Todas as vezes que penso em quando te conheci penso que é falta de sorte não ter te visto antes, por acaso. Estou segura de que eu saberia que você é você e te falaria assim como agora te falo e você saberia que eu sou eu e daríamos passos gigantes rumo à felicidade que nos aguardaria na próxima curva. Agora na próxima curva só encontro a morte e um pouco mais perto de mim estão as horas vazias que passarei a contemplar a cadeira onde você não está, e pensarei (com um sorriso irônico, confesso) na diferença de significado das palavras que pronunciamos sem que o outro possa abarcar seu sentido por completo, pois não crescemos juntos. Você já veio pronto, tem o que é necessário para suportar o que não suporto. E o que eu não suporto é a pequenez da vida diante da imensidão da morte.

(Enquanto escrevo, faço uma prece desordenada que exige que alguém bata à porta, que atrás dela estejam seus olhos e que neles eu encontre a calma que não tenho, a esperança que perdi, o amor que noutro lugar jamais encontro)

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