sexta-feira, 1 de março de 2013

O livro é seu. Eu leio e não entendo, não te encontro, mas procuro a cada página a voz que nada diz e te escuto naquelas partes grifadas. Nelas, estou à espera de uma revelação.  Nelas, te ouço sussurrar dentro de mim e ecoar na minha voz. Quero nos meus olhos os olhos teus. Quero estar mais perto mas nunca estive tão longe quanto agora, enquanto leio seu livro favorito e nada compreendo da sua escolha. E compreendo menos ainda que tenha me escolhido por confidente: "toma, é o livro que mais gosto" você disse ou foi quase isso, talvez tivesse dito que o livro não morde e, que pena, não me mordeu mesmo, não me puxou pelos cabelos, não rompeu as correntes que atam minhas mãos e que em meus pés pesam feito peso do mundo. E você é leve, uma pluma que não acompanho, que o mais leve sopro da minha fatiga imensa pode afastar - e afasta. Afastou.

Quero sentir o que jamais senti por não ser dotado da sua iluminância boreal, do seu brilho que se materializa em qualquer um dos seus gestos e em tudo que recebe a graça do seu toque, das suas palavras sempre tão afiadas e certas feito faca, feito lança, você é guerreira e eu, desajeitado escravo sujo e gasto, estou no mesmo lugar a tentar decifrar os signos impressos. Caminho e caio entre cada uma das palavras que você conhece bem. Percorro por este caminho que te fez você e que me deixa cego, surdo, manco, parestésico.

Mas eu minto. Estou mentindo se digo que não sinto nada: sinto (e com uma nitidez quase concreta e irracionalmente estúpida) a falta que você me faz.

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